domingo, 1 de março de 2020

I'm moving out

É peculiar a sensação de voltar tanto tempo depois, achando que eu ainda tenho algo a acrescentar aqui.

Tanta coisa mudou desde a última vez que estive aqui, que achei que seria legal escrever algo. Primeiro a minha percepção de mundo. Na época eu estava passando por um período bem conturbado da minha vida. É como se eu precisasse de uma válvula de escape, algum lugar pra concentrar meus pensamentos. Uma espécie de diário, sabe? De lá pra cá, encontrei diversas outras formas de canalizar essas ideias e sentimentos, e algumas dessas coisas já foram até resolvidas. Terapia é absolutamente tudo.

Agora eu estou entrando em uma fase completamente nova, em um salto de fé maluco e sem nenhuma rede de segurança. E enquanto o Leonardo de junho de 2015 estaria absolutamente assustado com isso, o Leo de agora está se sentindo tão confortável, que achou de bom tom registrar isso em algum lugar.

Sempre gostei de imaginar esse lugar aqui como uma capsula do tempo, onde eu vou colocar pequenas fases da minha vida, pequenas ideias, pequenos suspiros, pra que daqui a um tempo eu tenho algo para me recordar de quem eu era. Então agora, esse sou eu. O Leonardo de vinte e três de fevereiro de dois mil e vinte. Quase cinco anos depois.

Quando eu decido traçar um paralelo entre quem eu era e quem eu sou, tudo fica tão engraçado. Sem querer ser presunçoso ou arrogante de achar que o meu eu anterior era "menor", mas é inevitável rir de pena.

Se antes a maior das minhas preocupações era não estar sozinho, com medo de que meus amigos me abandonariam, hoje eu tenho a percepção de que há pessoas ao meu lado. Amigos que me ouvem, que me orientam e que cuidam de mim.

Meu relacionamento, numa pressa prematura, quase acabou em 2015. Não deixo de ter a curiosidade ao imaginar como teriam sido as coisas caso tivesse ido por esse caminho. Mas os laços foram reatados e, honestamente? Embora a curiosidade exista, não há absolutamente nada nessa realidade paralela que me atraia. Hoje eu moro com meu namorado (marido?) mas posso dizer que foi a melhor escolha que eu poderia ter feito. Meu melhor amigo e meu melhor parceiro possível. A confiança e o amor são tão vívidos e tão presentes, que às vezes se tornam parte do cenário, como se fosse uma terceira pessoa, apenas nos observando, sem que nós dois percebamos. E se a insegurança antes permeava cada pequeno passo dos dois, hoje vivemos nossa liberdade e companhia da melhor forma possível.

Sigo ouvindo música constantemente. Só acho engraçado ver o quanto isso se expandiu e tomou conta da minha vida. É real uma necessidade, como se eu não fizesse nada enquanto não houver uma trilha sonora. Nunca vi graça em filme mudo. Nessa trilha da minha vida que se desdobrou nesse período de cinco anos, descobri muita coisa. Lorde, Robyn, 1975, Dua Lipa, Kylie Minogue, St. Vincent, Carly Rae Jepsen, Charli XCX, Mark Ronson, e vários outros. E fuçando nos rascunhos aqui, encontrei um textinho que falava sobre o que eu ouvia à época. Com sorte, Muse é algo que foi eliminado dos meus fones de ouvido. Já o Brandon Flowers continua reinando superior. Até tatuagem eu já fiz em homenagem ao Battle Born.

Séries são uma parte cada vez menor da minha rotina, principalmente séries horríveis como Gotham. A coragem que eu tinha em dizer que era "foda pra caralho", meu deus. Porém nesse meio tempo tive o prazer de me apaixonar diversas vezes pelos universos mais incríveis: vi a ascensão e queda desastrosa de Game of Thrones, vi o universo de Watchmen ser representado lindamente, revi Doctor Who e descobri que meu amor ultrapassa as barreiras de todo o espaço e tempo, repensei todos meus conceitos de expectativas e catarse com The Leftovers (talvez a série "nova" que mais me marcou nesse período).

Voltei a me apaixonar por jogos. Tive experiências incríveis nesse período, e se antes eu achava que os jogos iam me salvar, hoje eu tenho essa certeza. Pokemon, Death Stranding, God of War, The Last of Us, Metal Gear Solid, Uncharted, Dead Space, Resident Evil. Viajei pelos mais variados mundos, nas mais peculiares companhias, e muitas dessas viagens me definiram.

Tive a oportunidade de finalmente me libertar de experiências traumáticas (nesse caso, estou falando de ter mudado de emprego). Se antes eu vivia pra agradar pessoas, me estressando ao extremo, hoje eu faço o que eu amo, sendo coordenador em uma escola (!) ainda que eu me estresse bastante também.

O resumo disso é que eu provavelmente não sou a mesma pessoa, ainda que me afeiçoe bastante pela pessoa que eu fui. Foi bom reencontrar essa pessoa, da mesma forma que se encontra um velho amigo na rua. É estranho, nostálgico e esclarecedor. Mas, acima de tudo, é surpreendente. Você consegue enxergar o contraste de forma tão clara, sabe? E é um ótimo sinal saber que eu não sou o mesmo, saber que saí de um lugar e fui ao outro. Adorei encontrar com esse velho amigo, sair pra tomar um café e colocar a conversa em dia. É prazeroso perceber que já não temos tanto assim em comum, embora seja reconfortante notarmos nossos pontos em comum.

E esse é o registro que eu quero deixar aqui. Um novo Leonardo, mas não tão novo assim. A day (or many?) in my futzing life.